
Quando em 1931, o casal de missionários norte-americanos passaram a prestar assistência médica aos ribeirinhos da Amazônia, eles não imaginavam que oito décadas depois, seu trabalho continuaria a inspirar jovens de várias partes do mundo. A enfermeira Jessie e o engenheiro Leo Halliwell construíram uma clínica móvel em uma lancha, que batizaram de Luzeiro 1.
O barco – que media 11 metros de comprimento por 3,5 de largura – era a casa e o consultório dos missionários. A bordo do “Anjo Branco”, como era chamada a lancha pelos nativos, o casal atendeu 50 mil ribeirinhos e índios ao longo de vários anos de trabalho. Para atender a bacia amazônica, eles chegaram a navegar quase 20 mil km por ano.
Durante o dia, Leo e Jessie prestavam atendimento médico e educacional, à noite, ensinavam sobre um livro preto e seu principal personagem: o até então desconhecido Jesus. Foi assim por anos e anos, inclusive com seus sucessores. O projeto cresceu, foi implantado em outras regiões do Brasil e chegou a ter 16 lanchas trabalhando simultaneamente.
Porém, de 1998 a 2009, a Igreja Adventista do Sétimo Dia não investiu mais nas lanchas, ficando o trabalho a cargo apenas de médicos, dentistas e profissionais voluntários. Mas em 2010 a luz voltou a brilhar com a inauguração da lancha Luzeiro 26, agora sob os cuidados da ADRA Brasil, ONG adventista que atua na região em parceria com a Asvam (Ação Social Voluntária da Amazônia).
Espírito voluntário
É nesse contexto que vive Thaínne de Oliveira. Assim que se formou em enfermagem, ela sentiu o desejo de servir a Deus e ao próximo como voluntária. Fez sua inscrição no Serviço Voluntário Adventista (voluntariosadventistas.org) e foi aprovada. Em pouco tempo, Thaínne foi chamada para servir na Comunidade Rosa de Sarom, a 160 km de Manaus.
Essa é uma das 32 vilas atendidas pela lancha Luzeiro 26. Logo na entrada da comunidade, bem próximo à margem do rio, é possível ver o templo adventista e o posto da ADRA Brasil. Energia elétrica ali é luxo, apenas das 18h às 22h, quando o gerador fica ligado.
Thaínne é mineira de Aimorés, mas deixou o conforto da família para ajudar o próximo. Ela foi voluntária por 1 ano e 8 meses até ser contratada por uma das sedes administrativas da Igreja Adventista em Manaus.
Aventuras na selva
Ela passa grande parte do tempo na lancha, sujeita a tempestades, ataques de jacarés e doenças como malária e febre amarela. Nesse contexto desafiador, Thaínne diz estar vivendo uma nova dimensão de sua espiritualidade, um profundo relacionamento com Deus.
É na fé que ela encontra motivação para recuperar dedos de nativos mutilados por arraias e jacarés e ensinar noções básicas de planejamento familiar para as mulheres da comunidade. Promover o uso de anticoncepcionais é um desafio para um local em que é comum ter dez filhos sem qualquer condição financeira para isso.
Além de atuar como enfermeira durante a semana, Thaínne é responsável por receber, hospedar e alimentar, aos fins de semana, o grupo de voluntários que atende na comunidade. Isso inclui lavar roupa de cama no rio e começar a preparar o desjejum caprichado, sem eletrodomésticos, às 4h30 da manhã, com bolo, torta, pães e sucos.
Há vagas
Projetos de curta duração costumam atrair estudantes e univeristários de todo o Brasil e algumas partes de mundo. Interessados na biodiversidade da Amazônia e no intercâmbio cultural, em 2012, foi a vez de um grupo de universitários australianos passarem dez dias por lá.
Eles doaram um gerador de energia e construíram um pequeno abrigo de madeira para o equipamento, além de novos banheiros para a comunidade. Também ensinaram um pouco de inglês e aprenderam, o que foi possível, de português.
O projeto do qual os voluntários da Austrália, Estados Unidos, Canadá e Brasil já participaram é o Aventura Solidária. O programa é realizado duas vezes por ano e em cada edição procura atender a necessidades específicas de comunidades carentes, deixando um legado de solidariedade.
C+
Veja duas matérias da TV Novo Tempo sobre o projeto Aventura Solidária e uma entrevista com o mentor do programa, pastor Landerson Santana.
Para saber +
Desafio nas águas (CPB, 2009)
Autor: Gabriela Frontini - Publicado em: 02/07/2013 - Fonte: